sábado, 21 de fevereiro de 2009

O reconhecimento internacional de nossa imprensa

No polêmico caso envolvendo advogada brasileira na Suíça há um aspecto que deveria ter sido mais bem analisado pelos interessados no assunto, mas que foi ocultado, principalmente na grande imprensa – aliás, por motivos óbvios, o leitor logo o verá. (verdade seja dita, porém, o blog Cidadania.com não deixou de anotar o elemento que será aqui explorado).

Numa de suas primeiras reações, a imprensa do país europeu criticou duramente as autoridades brasileiras por sua precipitação, mas foi especialmente enfática em apontar o que se pode chamar de mau-caratismo da mídia brasileira, que, segundo ela, é dada a mentir, a inventar coisas, a destruir reputações, a cometer injustiças de toda espécie.

Antes de prosseguirmos, uma questão: há muita gente aí que se oporia a essas assertivas dos suíços em relação aos meios de comunicação de nosso país?

A imprensa brasileira sempre embarcou com muita facilidade em canoas furadas. Esqueça-se da Escola Base, amigo leitor, caso emblemático da pressa e da falta de diligência dos meios de comunicação brasileiros. Pense noutros: Alceni Guerra, Freud Godoy, caso da mãe que teria colocado droga na mamadeira, caso Júlio Lancelotti, a história do escrevente que teria matado os pais em São Paulo etc.

Aparentemente a mídia se recusa a refletir sobre seus erros. Ela deveria ver no “desabafo” de seus pares suíços mais um motivo para repensar sua situação e seu modo de agir nos últimos tempos. A coisa anda tão feia para o lado dos meios de comunicação no Brasil, que, de poucos anos para cá, todos se sentem relativamente à vontade para tratá-los como saco de pancada - nalgumas oportunidades com a mais pura razão, noutras com alguma dose de cinismo. Vejamos alguns casos.

Quem não se lembra de texto do filósofo Mangabeira Unger na Folha de São Paulo acusando o governo Lula de ser o mais corrupto do Brasil republicano? No entanto, ao aceitar cargo no mesmo governo, o descarado intelectual saiu-se com a desculpa de que somente fizera aquelas declarações porque havia sido mal informado pela imprensa brasileira. Como bem lembrou Alberto Dines, em interessante texto publicado no Observatório da Imprensa, Mangabeira colocou a Folha, jornal do qual era colunista, em má situação, pois não dava para imaginar que o professor, então morador dos Estados Unidos, fosse buscar notícias sobre o Brasil na concorrência. A pergunta básica é: o hoje secretário com status de ministro do governo Lula teria coragem de arriscar tão absurda saída olímpica se sentisse que a imprensa gozava de um mínimo de prestígio entre a população brasileira? Certamente não. Mangabeira, para tornar menos cínico o seu ingresso no governo que criticara da mais dura maneira imaginável, aproveitou-se, em verdade, da absoluta antipatia que a mídia já vinha provocando em boa parte da opinião pública.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva também não deixa de dar suas cutucadas na imprensa de quando em vez. Há algum tempo provocou a ira de colunistas, sugerindo que a imprensa era culpada de boa dose da violência que se verificava no país, por conta da sua opção preferencial por notícia ruim e por desgraças de toda magnitude. Recentemente, na famigerada entrevista à revista Piauí, o presidente brasileiro chegou a antecipar o teor da bronca publicada na imprensa suíça. Disse ele: “a única coisa que eu lamento profundamente é que quando acontece a publicação de uma mentira, quando vem à tona que aquilo era mentira, não seja publicado do mesmo tamanho o desmentido. (...)Quando você é condenado, você já foi condenado previamente. Quando você é absolvido, isso não aparece ”. Num país em que a imprensa fosse respeitada, o chefe de Estado teria que pisar em ovos ao dar tais tipos de declaração, mesmo sendo elas a mais absoluta verdade.

Mediante tais exemplos, é de se estranhar que a imprensa brasileira seja incapaz de fazer o mínimo de autocrítica e de ser mais cuidadosa com os seus métodos. E o caso Paula ajuda a mostrar que o problema não é de má vontade por parte de políticos magoados com críticas ou de protoditadores que querem silenciar a liberdade de expressão. Dessa vez ficou demonstrado que a má qualidade do jornalismo praticado no Brasil já conquistou fama internacional. Certamente, os suíços não disseram o que disseram da nossa mídia por acaso.

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