1974. No Brasil, a “ditabranda” da Folha estava a todo vapor. Uma das características daquele período, como sabido, foi o uso indiscriminado da tesoura da censura. O clima, portanto, era bastante ameno para quem quisesse mutilar uma obra de arte. E o cidadão, consumidor, fã ou o nome que queira dar, talvez sem o perceber, se acostumava com trabalhos “criminosamente” cortados, editados, podados. Era coisa normalíssima.
Este álbum de Isaac Hayes, trilha de filme por ele mesmo estrelado, não foi vítima da censura do regime militar brasileiro, evidentemente. Mas sofreu no Brasil uma edição vergonhosa que só pode ter ganhado lugar num ambiente que apresentava pouca preocupação com a integridade das criações artísticas.
O selo Copacabana despudoradamente transformou um álbum duplo em disco simples, e isso a despeito de as trilhas sonoras, grosso modo, terem uma unidade que não poderia em nenhuma hipótese ser maculada. Confesso que quis ser simpático com os editores brasileiros e, por isso, lancei-me em pesquisas para confirmar se o álbum não tinha mesmo uma edição reduzida oficial. Parei minhas buscas quando percebi um detalhe na versão nacional: o LP não tem “lado a” e “lado b” como de costume; ele apresenta em seu selo “lado 2” e “lado 3”! Com efeito, é disso que se trata. Nossos amigos da gravadora então instalada no ABC paulista não quiseram se dar ao trabalho nem mesmo de compilar; eles simplesmente dispensaram os lados 1 e 4 e lançaram o “miolo” do disco no Brasil. E para que o trabalho de adaptar o selo? Deixa lado 2 e lado 3 mesmo e está tudo certo! Que moleza, ou como diriam os editorialistas da Folha, que brandura!
E como já mencionado, fica o lamento pela falta de outra metade que certamente completaria o aspecto conceitual tão caro às boas trilhas. Mas a parte que se tem no lançamento nacional é bastante instigante: soa como um mix da psicodelia de Hot Buttered Soul com a virulência funk e os sussurros easy listening da trilha de Shaft. Não sei se "Truck Turner", o filme, pode ser enquadrado no gênero conhecido como blaxploitation; mas a trilha (ou pelo menos a parte dela a que tenho acesso) deve!
Espero qualquer hora dessas ter acesso às demais canções do álbum.
Não é sobre liberdade (e eles sabem disso)
Há 5 semanas
3 comentários:
Olha só! Eu tenho um vinil deste dico que contém os lados 1 e 4....Devem ter lançado os 4 lados em discos separados...um absurdo!!
Puxa! Informação importante; mais, curiosíssima. Vou ficar de olho nos sebos para, quem sabe, qualquer hora dessas encontrar o lado 1 e 4. Absurdo é apelido!
Tenho as 2 edições em vinil edição nacional de 1974 selo enterprise e creio que na verdade foi erro de impressão nos selos dos lps,em um dos lps consta side 1 e side 4 (lado 1 e lado 4) e na outra edição consta sede 3 e side 4,nos selos. As capas são diferentes, ambas com o Isaac Hayes e em uma das capas ele aparece empunhando uma Arma e na outra capa ele disparando com outra arma.
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