sábado, 9 de maio de 2009

Duas palavrinhas sobre a gripe suína

Questão nacional
Talvez o leitor tenha visto matéria sobre o fato de a Embaixada do México em Paris ter rechaçado o uso do termo gripe mexicana em lugar de gripe suína como referência à doença provocada pelo vírus H1N1. E mais, considerou o termo discriminatório.

Com a entrada em cena da retórica da globalização, muito se disse de um iminente enfraquecimento da ideia de nação. Parece que não é bem assim! Foi só mexer com os brios nacionalistas de um país, e a sua diplomacia rapidinho entrou em campo. A nação mexicana não quis saber de se identificar com algo que, em nível mundial, está longe de poder ser considerado bom.

Curiosamente, a preocupação inicial com a doença foi assoberbada justamente em virtude de alguns elementos que ajudam a caracterizar a tal globalização: fluxo intenso de pessoas de um país para o outro; grandes centros como pontos irradiadores seja lá do que for; rapidez na disseminação de, digamos, tendências. Tudo a ver, pois o México é país grande e importante, recebe e exporta muitos turistas, populoso etc. Ah, além de tudo isso, só para piorar, eles, como bem sabemos, estão longe demais de Deus mas muito perto dos Estados Unidos, o que quer dizer que a propagação tinha tudo para se agigantar a níveis inimagináveis.

E rapidinho, todas as "nações", em nível "global", correram a se cuidar da moléstia.

Mas nada de chamar de gripe mexicana, ok? Nem de Suína (pobres porquinhos!). É H1N1 e pronto.

Não é tão feio quanto parece
Depois de um terrorzinho básico, sobreveio a informação de que o vírus H1N1 não seria tão letal quanto se esperava.

Não é de surpreender. Pelo menos não para os brasileiros.

O blog do Azenha apresentou uma série que destacava alguns vaticínios de nossa imprensa: ebola dizimaria 90% da África, segundo uma grande revista; outra, menorzinha, chegou até a indicar a data de entrada da gripe aviária no Brasil! Mas estes foram, a exemplo da gripe suína, exageros mais, digamos, globais. Em nosso nível nacional, o que não dizer da febre amarela da Eliane Cantanhêde e companhia limitada?

Poder-se-ia usar todos os clichês de "sociedade do espetáculo" e coisa e tal. Como bem disse o jornalista José Arbex certa feita, a mídia trata espetáculo como fato e os fatos como espetáculo. E nada parece servir melhor a isso do que questões de saúde: o pânico se 'dissemina' mais rapidamente do que a doença; as informações se propagam, nem sempre numa medida 'saudável'; com crise na saúde, pode-se 'diagnosticar' competências, ou incompetências, políticas (a gosto do freguês)!

O preocupante nisso tudo é o risco de depararmos com a fábula do "menino que gritou lobo": perigas de, na hora em que realmente aparecer alguma doença de alto nível de letalidade, ninguém acreditar!

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