Já tivemos ocasião de falar na possibilidade de um terceiro mandato para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Tal tema corre solto desde o processo sucessório de 2006, quando se começou a perceber que o presidente poderia se reeleger ainda no primeiro turno; persistiu quando, mesmo tendo que disputar um segundo escrutínio, o presidente demonstrou que sairia consagrado com vitória esmagadora. O assunto, num primeiro momento, só ganhou espaço por conta dos exageros da mídia e da falta de projetos da oposição, com clara intenção de criar uma espécie de terrorismo institucional.
Mas agora o tópico volta à tona graças à ação do deputado Jackson Barreto (PMDB-SE), que coleta assinaturas para colocar em tramitação no Congresso uma proposta de emenda constitucional que permitiria o instituto da segunda reeleição. Parece também fazer parte de tal proposta a possibilidade de um plebiscito ou referendo. O presidente Lula jura que não tem nada a ver com essa história e que já conta com candidato, quer dizer, candidata para 2010.
Situação complicada...
Quando Maquiavel falava da "fortuna" estava querendo se referir às condições concretas com que o governante eventualmente depara, as quais nem sempre dependem de sua vontade. O grande pensador a comparou a um grande rio que, quando enche, provoca estragos. Mas, ponderava ele, no momento de calmaria deve-se se preparar de modo a sofrer o mínimo possível quando sobrevier a cheia.
A maré está a favor de Lula. Se as eleições fossem hoje, e ele pudesse disputar o terceiro mandato, provavelmente ganharia mais quatro anos. Mas "a sorte é mulher", advertia o florentino, como dizendo que há que se cuidar dela.
Imaginemos que se coloque em tramitação a PEC do terceiro mandato. E se ela não for aprovada? Ou, de outro lado, se aprovada no Congresso, mas dependente de um referendo - ou de um plebiscito questionando acerca da sua possibilidade -, a proposta, em quaisquer dos casos, for rechaçada pela população?
Bem, no caso de fracasso da proposta, volta-se ao velho e bom plano Dilma. Simples assim!
É claro que não é tão simples.
A candidatura Dilma vem ganhando musculatura. A proposta de terceiro mandato tem tudo para esvaziá-la com mais virulência do que conseguiria qualquer propaganda maledicente da mídia ou dos grupos de extrema-direita. E, ademais, é improvável que as pessoas acreditassem que o presidente não tem nada a ver com isso, ainda que ele negue reiteradamente que queira ser candidato em 2010.
Neste caso, a principal mensagem seria a de que só se iria de Dilma se o presidente realmente não pudesse disputar mais uma eleição consecutiva. Para o eleitor, seria como se ela tivesse passado de "plano A" para "plano B" num piscar de olhos. Em vez da mulher forte, de idéias firmes e luz própria, ter-se-ia a marionete do Planalto, um quebra-galho ou um tapa-buraco, útil somente no caso da impossibilidade da candidatura daquele que é "insubstituível" nos quadros do Partido dos Trabalhadores.
Este blog gostaria de deixar bem claro que não é, em princípio, contrário à tese de terceiro mandato - não o é nem mesmo da possibilidade de reeleições infinitas. Somos, porém, a favor de medidas que não sejam oportunistas como foi a da reeleição de Fernando Henrique Cardoso. Aceitamos, também em princípio, que um referendo ou plebiscito possa diminuir o tom casuísta de uma mudança constitucional que altere as regras enquanto o jogo está rolando. Mas, voltando, isso só funcionaria se desse 100% certo. Para isso, ter-se-ia que combinar com os russos e deixar o "imponderável da silva" afastado do campo político por uns tempos, o que, por óbvio, é praticamente impossível.
E Dilma, meus amigos, tem muitas chances de levar em 2010 - está aí a recente pesquisa Vox Populi que não nos deixa mentir. Ou será mais acertado dizer que ela "teria"?
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