sábado, 13 de dezembro de 2008

Está todo mundo louco!

Na segunda-feira, dia 8 de dezembro, as bolsas de valores ao redor do mundo deram uma bela disparada. O motivo teria sido a proposta do presidente eleito dos Estados Unidos de investir em obras públicas, com o fim de dar uma força na geração de empregos. Como bem sabemos, a receita não é nova, antes encontra inspiração histórica em Roosevelt e teórica em Keynes. Obama foi além, dizendo que não é hora de se preocupar com a camisa-de-força representada pelo orçamento.

Atenção, você que acaba de sair do coma nos últimos dias, este blogueiro não está enganado: as principais bolsas de todo o mundo dispararam (e não despencaram) após esse anúncio do democrata eleito, mesmo tendo ele falado, em outras palavras, que não está esquentando muito a cabeça com déficits públicos.

Assistir aos movimentos nos tempos de crise tem, com efeito, dado nós em cabeças que se acostumaram a acompanhar noticiários e a ler ensaios tanto no campo da política quanto da economia. Aqueles que até alguns dias atrás se ajoelhavam diante do “deus-mercado”, agora falam de necessidade de regulamentação; os arautos da livre iniciativa, da concorrência e do risco, repentinamente saem em defesa de ajudas bilionárias a indústrias que foram a própria imagem do desenvolvimento capitalista; e finalmente, e em resumo, o velho Estado passa a ser um ente simpático, em vez de um estorvo para os empreendedores e cidadãos de uma sociedade livre.

Ok, amigos! Bem sei que já está virando clichê e soando enfadonho o apontamento dessas incongruências observadas não somente nos analistas econômicos e operadores do mercado financeiro, mas também na mídia e na boca da gente comum (o que é praticamente a mesma coisa, pois não raro as pessoas apenas repetem as besteiras que ouvem de nomes como Miriam Leitão, por exemplo). Mas, a despeito do abuso da paciência do leitor, vale a pena citar um exemplo doméstico e falar da estranheza que provoca ver algumas pessoas defendendo alguma rédea ao Banco Central do Brasil. Ora bolas, irritam-se eles, enquanto o mundo inteiro baixa os juros, o COPOM, na última reunião do ano, mantém inalterada a altíssima taxa brasileira. Isto, amigos, goste-se ou não, chama-se independência. A mesma independência que diziam que Lula iria tirar se fosse presidente. Tal afirmação, aliás, era uma das determinantes do chamado “risco Lula”, que tanto assustavam o mercado antes de o ex-metalúrgico sagrar-se presidente pela primeira vez. Assim não dá para entender! Então quer dizer que algo que deixava as "reginas duartes" da vida com medo de Lula agora é apresentado como uma necessidade por seus mais cruéis opositores?

Acompanhando tal série de desdobramentos, chega-se à conclusão que ramos como a economia, a política e a sociologia são objetos que tendem a sobreviver mais como ideologia do que como ciência. De científico mesmo, sob a ótica positivista, talvez somente a hipocrisia dos discursos – ela, sim, é a constante das análises. Mas, no varejo, como levar a sério uma “ciência” que hoje diz uma coisa que será negada amanhã. E pior que não dá nem para apelar para o falsificacionismo ou para as mudanças de paradigmas, pois não há avanço nas metamorfoses de visão, mas antes se volta a idéias que, no verão anterior, eram classificadas de retrógradas. Os mais simpáticos e menos desbocados podem dizer, no entanto, que em vez de hipocrisia dever-se-ia falar que análises do tipo dependem das condições reais, concretas de cada momento histórico. Pode ser. Mas vejo aí o espectro de Marx. O barbudo alemão e seus seguidores sempre disseram algo meio nessa linha. Mas o diabo é que pensadores como Popper viam nisso um fator que justamente dificultaria a concessão do status de ciência ao marxismo, pois baseado em algo tão pouco objetivo, como as assim chamadas condições concretas, encontrar-se-ia desculpa (palavra melhor do que justificativa) para tudo que se quisesse demonstrar: se as coisas ocorrem conforme um dado prognóstico, houve acerto; se fracassam, é que certas condições concretas não permitiram o resultado!

É um tanto confuso, bem sei. Mas neste mundo maluco, alguém me culparia por isso?!

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