Para quem quer entender melhor os tristes eventos deste fim de 2008, marcados pelos ataques de Israel na Faixa de Gaza, supostamente mirados no grupo Hamas, faz-se necessária a leitura de um pequeno livro da coleção “Primeiros Passos”, da Brasiliense: O que é questão palestina, da jornalista e cientista social Helena Salem.
De início, a autora desmistifica a tese de que o conflito árabe-israelense teria caráter milenar e que ele seria de cunho essencialmente religioso ou racial. Em verdade, árabes e judeus sempre tiveram convivência pacífica até a sedimentação do movimento sionista, especialmente da sua corrente que pregava a “volta à Palestina”, com o objetivo de criar um “lar judeu”. Parte da população árabe foi dizimada, e muitos tiveram que abandonar suas casas, expulsos que eram por colonos judeus apoiados pelos britânicos. O confronto é, portanto, segundo a cientista social, basicamente político desde os seus primórdios, tendo se agravado com a Segunda Grande Guerra, que trouxe situações extremamente difíceis aos judeus da Europa, levando-os a imigrarem em grande número para a região da Palestina.
Inicialmente, a região foi partilhada, pouco tempo depois da Segunda Guerra Mundial, num Estado judeu e outro árabe. Numa malfadada guerra iniciada em 1948 pelos árabes, que se sentiram lesados com a divisão sobre a qual não foram chamados a opinar, Israel conseguiu abocanhar mais território, enquanto a Palestina sumia. Outros eventos belicosos que ocorreriam nas décadas seguintes levariam Israel a ampliar suas fronteiras.
E a situação, como bem se vê, é complicada até os dias de hoje.
O apoio norte-americano à causa israelense e a ausência de viés crítico na mídia de todo o mundo impedem uma análise desapaixonada da pendenga. Tenta-se apresentar Israel como uma ilha de modernidade no “atraso” do Oriente Médio ou como uma nação politicamente organizada que apenas se defende de grupos terroristas. Não se deve perder de vista, todavia, que o movimento sionista contou na sua formação com grupos de extrema-direita de inclinação terrorista como o Irgun e o Stern. Ademais, o Estado israelense, de moto próprio ou na vista grossa aos atos de colonos judeus, sempre agiu de forma pouco respeitosa aos direitos humanos para com a população palestina. Israel notabiliza-se também pelo reiterado desrespeito a diversas resoluções da ONU, e isso desde a sua criação, em fins da década de 1940. Além disso, as reações israelenses aos supostos atos terroristas do Hamas, por exemplo, são, como bem disse nota do Itamaraty, desproporcionais, constituindo, sob certa leitura, atos que também podem ser associados ao terror, ainda mais que se vê a população civil sendo duramente atingida.
Alguém pode dizer que o livro de Helena Salem (autora que, aliás, é de ascendência judaica), é muito pró-Palestina ou, lendo de outra forma, anti-Israel ou francamente anti-sionista. Talvez seja. De todo modo, não devemos condená-lo por ser contrário ao discurso único. Vale pelo menos como uma segunda opinião.
Não é sobre liberdade (e eles sabem disso)
Há 5 semanas
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