Até o momento em que comecei a catar milho elaborando este post, não tive a oportunidade de ver a repercussão da fala do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que defendeu, na Venezuela, a mudança da constituição daquele país, ainda a ser referendada, que permitirá infinitas reeleições aos mandatários do país vizinho. Posso – e sinceramente espero – estar enganado, mas é muito provável que algum jornal de hoje (17-01-2009) já traga estampada a opinião de que Lula deu uma senha para tentativa de mais um mandato para si, não obstante o presidente tenha aproveitado para reiterar que não quer um terceiro mandato, embora admita que vá trabalhar dedicadamente para fazer seu sucessor.
Antes que o leitor me acuse de estar sendo leviano por falar de algo que admito não saber se realmente ocorreu, peço que o amigo primeiro acuse os meios de comunicação por serem tão previsíveis, e, dessa forma, darem tanta munição aos seus críticos.
O presidente brasileiro disse também que, estivesse o Brasil andando bem das pernas no final do mandato de Fernando Henrique Cardoso, provavelmente algum deputado da base governista apresentaria uma proposta de emenda para dar sobrevida a FHC. Isso foi, com efeito, um golpe de mestre de Lula. Também por antecipação, talvez imaginando a forma negativa que sua fala tenderia a repercutir na mídia brasileira, o presidente mandou um recado, talvez insinuando que faltou indignação quando o sociólogo ex-presidente foi beneficiado por uma mudança constitucional em 1997. Lula poderia ter ido além e lembrado também dos desejos atuais de um tal Uribe...
Mas analisando o mérito de questões envolvendo terceiros mandatos ou reeleições indefinidas, a sempre humílima opinião deste blogueiro é de que o problema delas seria somente a alteração de regras no meio do jogo, como foi, repitamos, a ocorrida no Brasil há mais de uma década. Por isso, as mudanças na Venezuela não deveriam, em princípio, beneficiar Hugo Chávez , assim como eventuais propostas de terceiro mandato consecutivo no Brasil e na Colômbia não deveriam servir a Lula ou a Alvaro Uribe. Tirando isso, não há maior gravidade nelas.
A possibilidade de reeleições indefinidas deixa os eleitores à vontade para permitir a continuidade de um governante – ou de projetos – que mais o agradem, do mesmo modo que não impedem o eleitor de rechaçá-las, se for o caso. Não há pensar que a alternância no poder seja um valor em si. No parlamentarismo, por exemplo, a continuidade de um grupo ou de uma figura à frente da chefia de governo não costuma encontrar amarras. Aqui no Brasil, um partido como o PSDB já está há quinze anos à frente do governo do maior estado do país sem que a mídia faça o mínimo de lamentação. E que não venham com o papo que a mudança dos governadores significa alternância no poder, pois há todo um discurso montado em favor da supremacia do partido sobre as figuras políticas. Houvesse honestidade e coerência na imprensa, sobretudo a paulista, já deveria ter sido adotado um discurso contra a hegemonia tucana em São Paulo.
Mas há uma crítica que, caso tenha sido observada em algum órgão da imprensa brasileira, mereceria elogio: seria a que dissesse talvez não ser de bom tom o presidente brasileiro ir à Venezuela fazer comentários sobre uma contenda interna daquele país, ainda mais levando em consideração que ela ainda deverá passar pelo crivo popular. Mas o substrato da fala de Lula é absolutamente perfeito, além de ser um tapa na cara da oposição brasileira, tanto a representada pelos políticos quanto a ilegitimamente encampada pela mídia.
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Um comentário:
Sidnei com blog?! Ha dois anos?! Sem sequer uma propaganda?!?!
Cara, que barato que voce tem um blog, mas eu preferia ter tido conhecimento ha mais tempo. Congrats.
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