Tarde fria com leve garoa no Parque Villa-Lobos. Bem "paulistanamente", diga-se! Mesmo assim valia a pena ir ver, principalmente, a apresentação do lendário Herbie Hancock.
Antes da apresentação, que se iniciou com cerca de meia hora de atraso, os alto-falantes tocavam ininterruptamente o clássico Kind of Blue. Ótima pedida; mas pouco inteligente: teria bem mais a ver escolher algum disco da fase elétrica de Miles, quando ele era auxiliado, dentre outras feras, por um pianista chamado Herbie Hancock.
Hancock fez um show que cai muito bem para o clima de espaços abertos: funky, elétrico, dançante. Logo após a música de abertura, com uma cantora convidada e com os vocais do baixista de sua banda, o pianista fez uma leitura bem animada de "When Love Comes To Town", semi-hit de U2 & B.B. King. Seguiram clássicos como "Watermelon Man", na versão do imprescindível álbum Head Hunters, também deste clássico rolou "Chameleon", já dos anos 1980 a influente "Rock It" e, por fim, a indefectível "Cantaloupe Island", sendo que esta última, a bem da verdade, ressentiu-se de uma pesadíssima mão pop.
Macy Gray já havia dado uma canja durante a apresentação de Herbie Hancock, num encontro que o tecladista fez questão de enfatizar que ocorria pela primeira vez. Mas a cantora voltou para a sua apresentação solo, cerca de uma hora depois. Não há dúvida que Macy, no quesito soul contemporâneo, tem bem mais fidedignidade do que, por exemplo, uma Joss Stone ou uma Amy Winehouse. Mas as suas canções, que em estúdio possuem alguma aridez, soaram grandiloqüentes, pasteurizadas, sem... soul, digo, alma. Lá para a quarta, quinta música, mais precisamente enquanto ela cantava a balada "Sweet Baby", resolvemos sair, abdicando de pelo menos mais uma hora de apresentação.
Resumindo: Hancock se deu bem com um show de características populares; Macy, por seu turno, exagerou no pop. Para completar, no trenzão da CPTM rolava "Carmina Burana", justamente - que interessante! - daqueles eruditos "mais populares".
*Originalmente publicado no RateYourMusic.
Não é sobre liberdade (e eles sabem disso)
Há 5 semanas
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