Delfim Netto, na sua coluna da Folha na quarta-feira (03-06-2009), tratou da problemática da divulgação de resultados do PIB. Tal tema, não há muito, foi também abordado no blog do Stephen Kanitz. A questão é que os dados trimestrais sobre o PIB só saem quando já está findando o trimestre subseqüente, o que, dada a volatilidade dos períodos de marolinha, pode desenhar algum retrato irreal da economia.
Vejamos: até o terceiro trimestre de 2008 a economia brasileira vinha obtendo um crescimento bastante significativo; tal dado só veio à luz quando, na prática, a nossa economia já se desacelerava, em parte por causa da crise internacional e, principalmente, por conta do terrorismo da mídia, por isso, governo e parcela da sociedade comemoraram algo que no “mundo real” já não ocorria. Já o PIB do quarto trimestre, divulgado no início de março deste ano, levou um tombo para lá de considerável, resultado que foi ecoado pelos quatro cantos num momento em que a queda possivelmente já se mostrava acentuadamente desacelerada.
E, agora, as informações sobre o primeiro trimestre de 2009 devem ser divulgadas já neste mês, ou seja, praticamente no final do segundo trimestre. O triste é que deve trazer números negativos, ainda que melhores em comparação com os do último trimestre de 2008 do que estes confrontado com os do penúltimo. Dizemos que é triste especialmente porque o resultado abrirá caminho para os jornais se regozijarem com uma tal “recessão técnica” num momento em que a economia real, provavelmente, já esteja em situação positiva, pelo menos conforme sustentam alguns analistas, dentre os quais o nosso já citado Kanitz.
Talvez fosse o caso de o IBGE tentar computar os dados com mais rapidez, para divulgá-los ainda em cima da pinta, enquanto vigora o retrato que fotografou. Do jeito que está, visualizar o PIB é como se se estivesse olhando para trás, para uma realidade que já passou, não servindo para muita coisa (se bem que talvez não sirva para nada mesmo, de maneira geral).
Mas, com o perdão do leitor, vamos filosofar um pouquinho! Vivemos num mundo afogado em números, viciado em dados, soterrado por estatísticas que obscurecem as reflexões. Se o crescimento econômico está alto ou está baixo, por que só se tem coragem de afirmar isso quando os números oficiais são apresentados? Explico-me melhor: um número representa algo real, é a mera expressão desse algo, logo, esse "algo" deveria se apresentar por si só. As pessoas teriam que estar reclamando e apontando a deficiência do crescimento, se fosse o caso, antes de os números serem publicados, e deveriam continuar a fazê-lo mesmo que o número divulgado surpreendesse e batesse a inacreditável casa dos 10%, por exemplo. Afinal, o que vale é o mundo real, o que se "sente na pele", não o número que o expressa. Não é possível que um dado seja mais importante do que a realidade que supostamente representa; ou mais: não é possível que a mera divulgação do dado seja mais importante do que o dado em si!!! Será que fui claro?
Mas para que ser claro? Para que explicações? O que vale é a frieza do número, a ser informado no momento oportuno: três meses depois!
Não é sobre liberdade (e eles sabem disso)
Há 5 semanas
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