A Secretaria de Educação do Estado de São Paulo vem dando o que falar. A pasta, atualmente comandada pelo Sr. Paulo Renato de Souza, ex- ministro da Educação do governo Fernando Henrique Cardoso, vem aparecendo nos meios de comunicação talvez mais do que gostaria . Poderia ser simplesmente pelo motivo de o estado mais rico da Federação, governado pelo tucanato há 15 anos, ter um dos piores ensinos do país, mas é pelo fato de os livros didáticos conterem erros grosseiros ou material impróprio para crianças.
Os “dois paraguais” presentes em mapa inserto em livro de geografia parece ter sido o que menos incomodou. Compreensível de alguma maneira. Na nossa atual condição de “potência regional”, talvez já não nos atentemos a um certo modo imperialista de agir. Colocar dois ou três paraguais num livro de geografia equivaleria – mal comparando - ao velho hábito estadunidense de afirmar que a capital do Brasil é Buenos Aires e ficar tudo por isso mesmo! Desse modo, é de somenos importância.
Já o dito conteúdo impróprio a crianças causou mais alvoroço. Foram quadrinhos com forte conotação sexual e uma poesia um tanto, digamos, marginal. As obras - todos parecem ser unânimes nisso - definitivamente não servem ao público pré-adolescente.
Mas vamos lá, amigo leitor! E quanto aos games superviolentos cultuados por garotos que mal sabem ler e escrever? E a programação da TV com cenas de violência e temas picantes a qualquer horário?
A propósito, acerca da televisão, foi por demais interessante o bombardeio que sofreu a proposta de classificação indicativa que o Ministério da Justiça tentou emplacar. Os mesmos órgãos de comunicação que agora se mostram tão surpresos com as barbeiragens do governo Serra, quando da discussão do projeto que pretendia disciplinar os horários da programação de TV, colocaram em campo a tropa-de-choque de colunistas histriônicos, sempre prontos a denunciar a censura, o bolchevismo, o dirigismo etc. etc. etc.
Alguns podem dizer que é diferente, afinal a televisão não tem a mesma responsabilidade da escola, ou de um livro didático ou, ainda, de um ente governamental. Será que não mesmo? A complexidade da nossa sociedade parece não deixar dúvidas de que se aumentou o leque de responsabilidades para a difícil tarefa de educar. Não dá para simplesmente abandonar a garotada, fazer pouco caso da programação de TV, ser liberal com games violentos, aceitar na boa que se circule à vontade por sites de relacionamento mesmo sabendo que por lá pode haver racismo ou homofobia etc., e achar que a escola - ou seus livros didáticos - pode cobrir qualquer lacuna. Isso, aliás, assemelha-se ao velho erro de achar que a figura do professor pode substituir a dos pais: "ah, deixa meu filhinho; depois o professor conserta; afinal, é trabalho dele!". E não se trata de defender o controle pelo controle ou, como já dito, a censura pura e simples; trata-se somente de não tapar os olhos para uma realidade que não somente nos bate o rosto, mas, literalmente, adentra os nossos lares. É a vida...
Olhando por esse prisma, a presepada da Secretaria de Educação do Estado de São Paulo, ainda que digna de críticas, mereceria ao menos o reconhecimento de que não é mais despropositada do que, por exemplo, alguma novela do horário nobre.
Não é sobre liberdade (e eles sabem disso)
Há 5 semanas
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