quinta-feira, 11 de junho de 2009

"Recessão técnica"

Conforme previsto no post anterior, o PIB do primeiro trimestre de 2009 recuou em relação ao período anterior. Ainda que a queda tenha sido sensivelmente menor do que a esperada, os jornais não deixaram de ecoar a tal “recessão técnica”, que é definida por dois trimestres com resultados negativos em relação ao anterior.

Observe-se que a recessão lato sensu tem um significado bem mais, por assim dizer, assustador: “Conjuntura de declínio da atividade econômica, caracterizada por queda da produção, aumento do desemprego, diminuição da taxa de lucros e crescimento dos índices de falência e concordatas.” (Dicionário de economia, Org. e Sup. de Paulo Sandroni. São Paulo: Best Seller, 1989). Não é, com efeito, a real situação da economia brasileira, daí porque ter que se buscar a expressão “recessão técnica”, de definição mais objetiva, para se conseguir dar notícias em tom catastrofista.

E de nada adiantaram as advertências de que o PIB divulgado seria, nas palavras do ministro Guido Mantega, um olhar no retrovisor, afinal se referem a um trimestre encerrado há mais de dois meses. Também não foi dada a devida atenção para o fato de que o recuo trimestral representou um importante avanço em relação ao péssimo resultado do último período de 2008. Isso sem falar do descaso com os dados mais hodiernos da economia do país, os quais não se coadunam de nenhuma forma com os elementos que efetivamente fazem uma recessão, de acordo com a definição do dicionário de Sandroni. A Folha, por exemplo, não se fez de rogada e manchetou na quarta (10-06-2009): “Brasil está em recessão” - ainda que esquizofrenicamente tenha colado à manchete análise de economista dizendo que a coisa não estava feia para nós!

À exceção da Agência Brasil, não logrei ver em nenhum órgão a importante informação de que no acumulado de 12 meses o crescimento foi de 3,1% (leia aqui). Quer dizer, se, por hipótese, março tivesse sido o fim de um ano, o PIB brasileiro teria sido digno de consideração para tempos de crise. A Itália, por exemplo, certamente não teria a mesma sorte, haja vista que tem queda no seu produto interno bruto por quatro trimestres consecutivos. Os italianos, sim, sabem o que é recessão!

De todo modo, por incrível que pareça, o resultado trimestral da economia brasileira acabou sendo bom ao menos nos seus desdobramentos: a queda está longe de poder ser considerada catastrófica, mas permitiu que o Banco Central fizesse um corte até que profundo na SELIC. Não é improvável que se os números viessem positivos, como certamente virão no segundo trimestre, o COPOM tivesse uma das suas recaídas conservadoras.

Feliz recessão – técnica – para você também!

Nenhum comentário: