O saxofonista Pharoah Sanders é devoto das longas improvisações, repletas de percussões com forte acento africano, além de alguns lampejos de orientalismo. A sua obra sofre inegavelmente a influência dos trabalhos mais vanguardistas de John Coltrane, especialmente daqueles ditos mais “espiritualizados”, meditativos ou contemplativos. Não por acaso Sanders acompanhava Coltrane circa 1965, estando presente nos shows de free jazz incontido que resultariam no álbum Live in Seattle. Ah! Se alguém também pensar em Albert Ayler, não estará cometendo nenhum desvario.
Tanto Coltrane quanto Ayler estavam mortos quando do lançamento deste Black Unity, em 1972. Talvez seja o caso de dizer que o álbum é uma espécie de seguimento do legado deixado pelos dois inquietos saxofonistas. Ao contrário do que se poderia pensar, a tal unidade apregoada pelo título do disco e de sua única canção de 37 minutos não é de conteúdo político, pelo menos não unicamente. Sanders está pensando também no sentimento de se estar junto, tanto das pessoas entre si como delas com o mundo e com o seu Criador. E é a música que tem a capacidade de expressar a necessidade e a possibilidade de tal união.
Desligando-se das idéias e centrando-se na parte meramente musical, deve-se recomendar este disco para os fãs de jazz avant-garde em geral, mas particularmente para os aficionados por contrabaixo: o já experiente Cecil McBee dividia as glórias com um então novato chamado Stanley Clarke. Quer mais? E tem mais! Embora pareça impossível, Black Unity consegue a proeza de ir além daqueles elementos expostos com verdadeira mestria no também imperdível Karma, de 1969.
Não é sobre liberdade (e eles sabem disso)
Há 5 semanas
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