sábado, 9 de agosto de 2008

Quixote está de volta!

A peça Quixote está de volta aos palcos de São Paulo. A Cia dos Imaginários estará fazendo a releitura do clássico de Cervantes no Teatro Denoy de Oliveira, na Rua Rui Barbosa, 323, na Bela Vista, todos os sábados e domingos de 9 a 31 de agosto.

O autor destas maldigitadas teve a oportunidade de assistir à apresentação do original trabalho representado pela trupe em setembro de 2007. Naquela oportunidade ousamos escrever um texto para o blog Veritas sobre o belíssimo trabalho perpetrado pelo diretor René Piazentin e pelos atores Aline Baba, Kedma Franza, Octávio da Matta e outros. Reproduzo abaixo o texto, com algumas pequenas adaptações. Espero que ele ainda continue atual. Depois lhes confirmo.

Quixote
Talvez o leitor seja daqueles que só vão ao teatro – ou a uma apresentação de dança – quando algum amigo ou parente faz parte do espetáculo. Não raro a qualidade da apresentação é tão tocante que enseja a pergunta de por que não prestigiar tais tipos de evento com mais freqüência. Sim, caro leitor, antes que você inteligentemente o deduza, faço aqui o mea culpa: também estou entre os faltosos com essa forma de manifestação artística. Para ajudá-lo a tentar suprir essa lacuna, gostaria de humildemente recomendar que assista à peça Quixote, com a Cia. Dos Imaginários.

O objetivo da trupe, nas palavras do diretor René Piazentin, não foi o de fazer uma adaptação desse clássico da literatura universal, mas de “criar livremente a partir da figura central imagens que traduzissem um pouco do espírito de sonho, utopia, do desejo de vencer as barreiras que a realidade impõe para transformá-la (...)”.

O “cavaleiro de triste figura” de Cervantes foi expressão da nascente modernidade; o Quixote da Cia. dos Imaginários, por seu turno, é pós-moderno: ele depara com a velocidade dos dias atuais, é vítima da violência, entra no turbilhão da repetitividade e se deleita com a previsível sensualidade dos gestos – ou melhor, caras e bocas – do mundo da moda e do mercado do prazer. Se o “moderno” de certo modo questiona a existência e quer buscar respostas para si e para o mundo, o pós-moderno ou aceita tudo ou duvida das explicações. A despeito da pretensão do diretor, nem sempre – e me permito dizer infelizmente - o pós-moderno abre espaços para o sonho, tampouco luta pela transformação... Mas é claro, o atributo da pós-modernidade a este Quixote quem está concedendo, não sem certa arrogância, sou eu.

Seria muito bom ver a peça mais de uma vez. Afinal, a minha parca experiência com o teatro já me mostrou uma coisa: diferentemente do cinema, ao qual assistimos pelas lentes do diretor, o teatro o vemos por “nossos próprios olhos”, e enquanto fixamos a visão num ponto ou num detalhe, noutra ponta algo interessante ou revelador pode estar acontecendo, talvez com o mesmo peso dramático. Em suma, nossos olhos ficam pequenos para o tamanho do palco; nem sempre o são para o tamanho da tela. Por isso, se numa das apresentações nos ativermos a algum detalhe ou idéia, numa outra oportunidade podemos “mexer” mais nossos olhos, na busca de outros enfoques.

Já adianto, caro leitor, que não há no trabalho diálogos no sentido clássico. O bom ritmo da peça se deve, além evidentemente do excelente trabalho dos atores, à boa escolha da trilha musical: vai da eletrônica superpesada à melancolia das “Gymnopedies” de Erik Satie; do pop perfeito dos Beatles ao lirismo de um Jeff Buckley.

Mas tão singelas impressões fazem parte só de uma leitura. As leituras, é claro, podem ser várias. Essa parece ser, aliás, a idéia que a peça tenta passar na excelente tirada de se exibirem exemplares do livro abertos em páginas diferentes. Certamente cada qual na platéia olhou para um exemplar; fosse humanamente possível ler o que estava em cada uma daquelas páginas e ter-se-iam verdadeiramente diversas leituras. Ou será que o “livro aberto” era só uma metáfora para “algumas” vidas que há por aí? Não importa, são apenas leituras!

Não deixe de ver Quixote. Apareça por lá, mesmo que você não seja amigo ou parente da Kedma Franza, da Tatiana Teodoro, do Octávio da Matta, da Aline Baba, da... Ah, não se esqueça de que não é preciso estar sobre a colina para ver o sol se pôr, ou para ver o mundo girar...!

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