As pesquisas apontam que, se as eleições presidenciais fossem hoje, o PSDB, principal partido de oposição, ganharia com razoável facilidade, especialmente se o candidato da legenda fosse o governador de São Paulo, José Serra.
Mas há um “espectro” que ronda a oposição: é o espectro da popularidade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Não há nomes fortes – ou nomes com densidade eleitoral, como gostam de dizer os analistas políticos – dentro do PT. Mas o carisma pessoal do presidente e os bons resultados de seu governo podem ajudar a transferir votos para seu eventual candidato à sua sucessão em 2010.
Mas até lá muita água pode passar por debaixo da ponte. Uma boa debruçada na história, inclusive recente, demonstra que não se deve cantar vitória ou simplesmente adiantar tendências de resultados na política com grande antecedência.
Por isso, seria especialmente grata para a oposição brasileira a vitória do candidato Fernando Lugo na corrida presidencial do Paraguai. Ex-bispo católico, principal candidato de uma frente de esquerda, Lugo garante que reverá os preços da energia que o Paraguai fornece ao Brasil, com o intuito de financiar programas sociais.
O efeito prático já seria sentido de imediato aqui no Brasil: preços mais altos ao consumidor final de energia e aumento de custos da indústria, o que poderia provocar mais aumentos de preços de todos os outros produtos do mercado. E pressões inflacionárias, como bem mostram tanto as atas do BC como as falas do presidente Lula, devem ser combatidas de pronto. Como se sabe, o método mais fácil de ser utilizado é o famigerado aumento da taxa de juros. Em resumo, o resultado é menos investimento, menos crescimento, menos emprego etc.
Pensando apenas nos efeitos imediatos de uma retração econômica, mesmo que seja em doses pequenas, já se pode inferir que a popularidade do presidente cairia um pouco. Ademais – e principalmente -, a maneira de como se der as negociações entre Brasil e Paraguai pode reacender críticas à política externa brasileira, as quais invariavelmente afirmam que o Brasil é muito flexível com alguns governos da região, e que isso se daria por motivos ideológicos, como manifestação de uma “fraternidade esquerdista” que seria, para o governo Lula, prioritária aos interesses nacionais.
Explorar questões sob a ótica do nacionalismo é sempre um bom ingrediente numa situação de crise. Os meios de comunicação e os estratos médios para cima da sociedade provavelmente seriam os que mais empunhariam tal bandeira. Evidentemente que não se lembrariam de que não foram – nem são - tão nacionalistas assim nas questões envolvendo as privatizações do patrimônio público ou no desejo – nem sempre inconfesso – de que o Brasil fosse mais subserviente aos Estados Unidos, por exemplo.
Tal questão é, além de tudo, um verdadeiro caso de surrealismo político. Para o governo Lula, talvez fosse melhor que o candidato conservador Lino Oviedo faturasse a presidência paraguaia; já a oposição e toda a direita política brasileira se regozijariam da vitória do candidato esquerdista, principalmente se, a exemplo de Evo Morales, ele resolvesse cumprir as promessas de campanha, pois assim poderiam exorcizar o fantasma da popularidade do presidente brasileiro.
Como se vê, política internacional é sempre uma matéria difícil. Tal assunto deve voltar em breve neste blog.
Não é sobre liberdade (e eles sabem disso)
Há 5 semanas
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