sábado, 29 de março de 2008

O tempo rodou num instante

O já lendário programa de entrevistas Roda Viva precisa dar uma diversificada nos seus jornalistas convidados. O tempo mudou, novas mídias surgiram, os velhos formadores de opinião já não conseguem... Bem, já não conseguem formar tantas opiniões assim!

Folha, Estadão, Veja e O Globo sempre estão representados no programa, sobretudo quando o entrevistado é figura do meio político. Nem todos os convidados para o centro da roda têm a coragem de um Hugo Chávez, por exemplo; por isso tem-se, vez ou outra, que agüentar a arrogância de jornalistas como Lourival Sant’anna e os seus “argumentos retirados da lata de lixo da história”.

Já está mais do que na hora de o programa chamar, especialmente para entrevistar políticos, alguns jornalistas de revistas como Carta Capital e Caros Amigos, e colaboradores de sítios como o Carta Maior e o Fazendo Média, entre outros.

A Carta Capital foi a única revista que, segundo órgãos verificadores, teve aumento de tiragem no ano de 2007; e o aumento de pessoas que preferem se informar pela Internet em vez de pelos órgãos tradicionais já é uma realidade à qual praticamente não cabe contestação. Ora, o que explica o fato de que os membros da Carta ou os representantes dos sites mencionados nunca - ou raramente - sejam convidados para o programa?

Não obstante a suposta ingerência do governo tucano de São Paulo nos negócios da TV Cultura, não há duvidar da honradez dos que a dirigem. Desse modo, sob pena de se bancar o ingênuo, vale acreditar que é o hábito – ou simplesmente o olhar parado no tempo – que faz os responsáveis pelo Roda Viva convidarem com tanta freqüência Renata Lo Prete, Carlos Marchi, Eliane Cantanhêde, o já citado Lourival Sant’anna etc.

Cada um desses jornalistas parece fazer as vezes de “a voz do dono” nos veículos em que trabalham. Não se deve, todavia, pensar que isso ocorre sob pressão ou de maneira combinada. Em verdade, vale, no caso deles, o que disse Noam Chomsky, em entrevista publicada na edição número 1 de Le Monde Diplomatique Brasil, sobre alguns importantes jornalistas da imprensa americana: eles têm toda a liberdade do mundo nos órgãos em que trabalham e não sofrem nenhum tipo de pressão ou censura por parte de seus patrões; mas eles só estão lá justamente porque suas idéias coadunam com a de seus empregadores! A TV Cultura, por intermédio do Roda Viva – talvez sem querer (?) -, dá voz às poucas famílias proprietárias de importantes órgãos de comunicação brasileiros: é a voz dos Frias, Mesquitas, Marinhos e Civitas que se ouve pelas bocas das Elianes, dos Marchis, Aiths e outros.

O mundo dá voltas! Deve-se admitir que em mais de mil programas o Roda Viva sempre deu conta do grande dinamismo da história e das conseqüentes vicissitudes da política, cultura, ciência, economia etc. Mas, por outro lado, os jornalistas convidados parecem remeter o telespectador para um tempo passado. Tempo em que a Folha tinha uma tiragem de 600 mil exemplares ou que a Veja fazia denúncias que ainda se podiam levar a sério.

Isso precisa mudar.

Roda!

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